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Cirurgia Bariátrica
Uso de substâncias
Alcoolismo
Recuperação
SBCBM
AAAP

Cirurgia Bariátrica e abuso de substâncias

Desde que as cirurgias bariátricas para perda de peso se tornaram mais baratas e acessíveis a mais e mais pessoas, profissionais bariátricos e profissionais de tratamento de dependência estão começando a soar o alarme sobre a tendência do número de pessoas que desenvolvem um transtorno por uso de substâncias após uma dessas cirurgias.

A American Academy of Addiction Psychiatry (AAAP) revisou vários estudos, incluindo um estudo prospectivo de 2013 que acompanhou mais de 4.000 pacientes obesos que fizeram cirurgia bariátrica – alguns dos quais por mais de duas décadas. Suas descobertas sugerem que aqueles que se submetem à cirurgia bariátrica podem ter até cinco vezes mais chances de desenvolver um distúrbio do uso de álcool dentro de 8 a 10 anos.

Além disso, os resultados mostram (sem surpresa) que os pacientes que usaram opiáceos com frequência antes da cirurgia têm grande probabilidade de continuar usando opiáceos após a cirurgia - geralmente aumentando a dose.

Com uma estimativa de 311.850 mil cirurgias bariátricas realizadas no Brasil nos últimos cinco anos, segundo a SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, isso significa que um número significativo de pessoas está se colocando em risco elevado de desenvolver um transtorno por uso de substâncias. De fato, pacientes submetidos a um procedimento conhecido como bypass gástrico em Y de Roux (RYGB) experimentaram, em média, um aumento de 200% no risco de morte por abuso de álcool ou outras substâncias, de acordo com pesquisa feita pela Universidade de Pittsburgh.

Vamos começar examinando os dois principais tipos de cirurgia bariátrica para perda de peso e o que está envolvido em cada um.

Cirurgia restritiva para perda de peso

Tipos restritivos de cirurgia para perda de peso incluem banda gástrica, balão intragástrico e gastrectomia vertical. Esses procedimentos são projetados para restringir a ingestão de alimentos, deixando menos espaço no estômago para os alimentos, o que faz com que o paciente fique satisfeito mais rapidamente.

Cirurgia de perda de peso disabsortiva

Como outros procedimentos, a cirurgia de bypass gástrico também envolve a criação de uma pequena bolsa pelo cirurgião. No entanto, com um bypass gástrico, o alimento não passa pela bolsa para ser digerido na parte maior do estômago. Em vez disso, a pequena bolsa é conectada cirurgicamente diretamente ao intestino delgado.

Isso permite que a comida literalmente contorne a maior parte do estômago e a primeira parte do intestino delgado, o que significa que é mais difícil para o corpo absorver calorias dela.

O procedimento de bypass gástrico Roux-en-Y (RYGB) usa grampos para criar a pequena bolsa e separá-la do resto do estômago. A bolsa é então conectada cirurgicamente a uma alça no intestino delgado.

Fatores de risco psicológico para uso de substâncias após cirurgia bariátrica

Vários estudos foram conduzidos para tentar identificar quais variáveis ​​pré-operatórias podem estar associadas ao aumento do risco de abuso de substâncias após a cirurgia bariátrica. Deve-se notar que o aumento do risco não é normalmente observado no primeiro ano após a cirurgia, devido em grande parte à dieta restritiva e à proibição do álcool nos primeiros seis meses a um ano.

Problemas psicológicos não são incomuns em pacientes com excesso de peso. Alguns dos riscos identificados mais comuns incluem:

  • Histórico de abuso de substâncias
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Imagem corporal ruim
  • Uso regular de álcool (mais de dois drinques por semana)
  • Tabagismo
  • Uso de drogas recreativas
  • Baixa autoestima ou sentimento de pertença
  • Homens mais jovens correm maior risco

Por que vemos essa correlação entre cirurgia bariátrica e abuso de substâncias?

Embora existam várias hipóteses, ninguém sabe exatamente por que existe uma correlação tão alta entre cirurgia bariátrica e abuso de substâncias.

A primeira hipótese é a transferência do vício, ou a ideia de que algumas pessoas estão trocando um vício (neste caso, um vício alimentar) por outro. Sem a capacidade de comer compulsivamente, continua a ideia, essas pessoas começam a tentar usar outras substâncias para ajudá-las a lidar com seu estado emocional negativo.

Outra hipótese baseia-se no fato de que, neurobiologicamente falando, podemos ver (com a ajuda de PET scans) que existem receptores de Dopamina-2 (D2) reduzidos no cérebro de indivíduos patologicamente obesos, extremamente semelhantes ao que vemos nos cérebros daqueles com vício. Essa capacidade reduzida de dopamina leva esses indivíduos a buscar substâncias que façam com que o cérebro libere mais.

Esta hipótese é apoiada por estudos de neuroimagem que mostram que a compulsão alimentar e a infusão intravenosa de álcool (essencialmente o que acontece quando o álcool ultrapassa o estômago) levam a uma rápida liberação de dopamina.

A terceira hipótese aplica-se principalmente ao procedimento RYGB, que pode alterar a farmacocinética do álcool no sistema do paciente, tornando-o hipersensível aos efeitos reforçadores (que já são um problema devido aos receptores D2 reduzidos acima mencionados) do álcool. De fato, muitas patentes relatam que, após um procedimento de RYGB, mesmo uma pequena quantidade de álcool pode deixá-los bastante intoxicados. Essas alterações específicas foram observadas apenas no RYGB e não em outras cirurgias bariátricas, como banda gástrica ou gastrectomia vertical.

A cirurgia para perda de peso mais popular nos Estados Unidos e que avança para ser a mais empregada no Brasil em pouco tempo, a gastrectomia vertical, também envolve a remoção de uma parte do estômago, embora não tanto quanto o RYGP. Um dos perigos da gastrectomia é que ela permite que o álcool contorne o estômago, o que reduz o metabolismo de primeira passagem do etanol no estômago e no fígado. Isso, combinado com uma capacidade reduzida de produzir álcool desidrogenase (a enzima envolvida na degradação do etanol), pode levar ao rápido desenvolvimento de tolerância e dependência física ao álcool.

O que pode ser feito para melhorar o atendimento e reduzir as chances de desenvolver um transtorno por uso de substâncias após a cirurgia bariátrica para perda de peso?

Uma das principais coisas que a maioria dos especialistas concorda que precisa acontecer é a implementação de uma melhor triagem pré-cirúrgica para procurar especificamente os fatores de risco descritos acima. Os médicos precisam ter conversas sérias com pacientes em risco, não apenas sobre a natureza transformadora da cirurgia para perda de peso, mas também sobre as mudanças fisiológicas que os predispõem ao abuso de substâncias.

Os pacientes frequentemente subestimam as mudanças pelas quais passarão, especialmente coisas como a rápida perda de peso, dobras extras na pele, bem como o potencial de ganhar peso novamente. Todos esses fatores podem ter um efeito importante na autoestima, e a falta de autoestima pode levar a uma série de comportamentos desadaptativos.

Esses comportamentos desadaptativos afetam todos os aspectos da vida, incluindo a saúde e a dinâmica familiar. Isso pode levar a um ciclo no qual o paciente tenta restabelecer sua autoestima, mas o abuso de substâncias causa problemas na vida diária, e esses problemas levam a um maior abuso de substâncias.

Por essas e outras razões, os especialistas também concordam que as diretrizes para os médicos de cuidados primários precisam estar mais sintonizadas com esses tipos de riscos e fazer mais acompanhamentos de longo prazo ao tratar pacientes que fizeram cirurgia para perda de peso.

A correlação entre vício e cirurgia bariátrica para perda de peso é um tópico de interesse emergente e algo que precisa ser abordado. As descobertas sobre abuso de substâncias e cirurgia bariátrica para perda de peso destacam claramente a necessidade de mais educação, tratamento e notificação de abuso de substâncias após a cirurgia para perda de peso.

Como quebrar comportamentos viciantes após a cirurgia bariátrica

O que você faz quando percebe que tem uma dependência, mas não sabe a quem recorrer? 

1. Obtenha ajuda. 

Você não pode se recuperar da dependência sozinho. Mesmo que você pare de se envolver com qualquer substância ou comportamento viciante, você precisa da ajuda de um profissional e de outras pessoas que entendam sua luta. Existem muitos recursos online para obter ajuda de profissionais ou grupos de apoio para outras pessoas que sofrem de dependência. 

2. Encontre encorajamento.

Desistir de uma substância ou comportamento viciante pode ser extremamente difícil. Você precisa de encorajamento de pessoas que te amam. Deixe as pessoas que amam você saberem o que está fazendo. Deixe-os saber especificamente como eles podem ajudá-lo. E peça ajuda a eles quando estiver lutando.

3. Seja paciente.

O caminho para permanecer abstinente costuma ser difícil. Seja paciente ao passar pelas frustrações, medos, irritações e dor de desistir de um comportamento viciante. 

4. Leve um minuto, uma hora e um dia de cada vez.

Escolha abster-se de seu comportamento ou substância doentia apenas no momento, não amanhã ou pelo resto de sua vida. O processo não parecerá tão assustador dividindo sua recuperação em momentos menores. 

5. Busque gratidão.

Comemore os momentos em que você mantém com sucesso sua determinação de viver em recuperação. Seja grato pela ajuda e apoio que está disponível para você. E use-o.

Toda vez que você responde à sua dependência e decide seguir em frente na recuperação, você desenvolve gratidão por seu trabalho árduo, pelas pessoas em sua vida que o ajudam e pela autoestima que você ganha. Mais importante, ao deixar seu estilo de vida viciante para trás, você começa a viver saudável e plenamente. 

Fontes: Enterhealth, Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Bariatric Centers of America

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