Alunos, álcool e outras drogas: o que fazer?
“Hoje em dia, dar aulas para adolescentes e jovens é praticamente um ato de heroísmo. Quando eles não estão nos desafiando, estão dormindo na sala. Parece que fazem questão de se exibir ainda mais, quando chegam alterados pelo consumo de droga ou álcool. Tanto faz se fazem parte da camada menos ou mais favorecida da população, ou se estudam na rede particular ou pública, ou ainda, se estão no Ensino Regular ou na EJA. A grande maioria não sabe o que está fazendo na escola”.
Esse depoimento, dado por um professor veterano de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), não esconde sua frustração e angústia. Durante sua vasta experiência como professor, ele vivenciou muitas situações em que os alunos chegavam drogados à escola e desinteressados pelos estudos.
Infelizmente, o desabafo daquele professor ecoa na fala de muitos profissionais que atuam na EJA. Não são raros os casos de distorção idade-série e também de grupos de senhores e senhoras buscando retomar os estudos interrompidos, muitas vezes por motivo de trabalho. Mas é numerosa a presença de adolescentes evadidos, ou frutos do fracasso do ensino regular. A realidade é repleta de casos em que os jovens são obrigados a retornar à escola, seja por exigência da promotoria, ou de seus primeiros empregos formais.
Pois bem, unindo a indisposição para com os estudos e as regras da instituição escolar, ou seja, a obrigatoriedade de se fazer e estar onde não se quer, com a falta de perspectiva, ou melhor, de projeto de futuro, temos mais um desafio: a presença das substâncias tóxicas e ilícitas no ambiente escolar.
Como coordenadora pedagógica de turma da EJA, eu frequentemente vivenciava episódios com alunos que chegavam embriagados ou, na linguagem deles, chapados pelo uso de maconha. Claro que é ineficaz e imprudente qualquer tipo de intervenção feita no momento em que o indivíduo se encontra em estado alterado de consciência. Quando minha presença era solicitada para mediar uma dessas situações temperadas pelo álcool ou outra droga, a atitude imediata era sempre de, respeitosamente, conduzir o aluno para fora da sala, indagando qual seria o motivo para aquela euforia.
A conversa girava em torno do motivo apresentado pelo aluno por ter se excedido na dose e na impossibilidade de aproveitar as aulas naquelas condições. Eu sempre sugeria a alunos maiores de idade que retornassem no dia seguinte ou chamava os responsáveis, no caso de os estudantes serem menores de idade. Nesses casos, eu me antecipava solicitando que, naquele momento, não houvesse nenhuma tentativa de conversa, repreensão ou qualquer tipo de comunicação que pudesse disparar um acesso de fúria ou algo parecido e já agendava um horário para tratarmos da situação no dia seguinte.
Quando a família retornava, algumas evidências eram marcantes: a fragilidade no vínculo afetivo entre responsáveis e o adolescente – fosse por distanciamento ou por sentimento de impotência por parte dos adultos; e a falta de projeto de futuro, de perspectiva de uma vida digna, por parte do adolescente. A mediação tinha como princípio fundamental o respeito entre as partes. Portanto, ao menor indício de que os ânimos sairiam do controle, eu retomava o princípio e prosseguíamos (ou não) com a conversa.
Embora o espaço de escuta e de acolhimento fosse preservado, eu também deixava clara a violação de uma lei e as possíveis consequências de uma reincidência, uma vez que a escola deve ser um espaço social de preservação das leis e regras de boa convivência. Entretanto, o tom da conversa não inspirava ameaça. Pelo contrário, é imperativo que a intervenção em situações delicadas como as que envolvem um ato ilícito seja pautada em princípios que claramente estão enfraquecidos como: o respeito, a confiança e a responsabilidade. Trata-se de apresentar a escola como possibilidade real de compromisso do aluno consigo mesmo, auxiliando a autoconfiança e o autorrespeito a partir de uma postura que o inspire a construir e seguir valores.
Durante todo o tempo em que trabalhei diretamente com esse público, considerado mais difícil por seus comportamentos desviantes, não tive a ilusão de que deixassem seus vícios, ainda que não faltassem projetos, palestras e debates sobre o tema. Porém, tive a satisfação de testemunhar muitas mudanças de atitudes, ao menos no espaço de convivência escolar. A consciência de que fumariam um cigarro de maconha no caminho de volta da escola não me levava a sucumbir. O fato é que a escola passou a ser um espaço que inspirava neles a responsabilidade e o compromisso de conviver em sociedade. E isso, para eles, já era muito, embora não fosse o suficiente.
E você? Já passou por alguma experiência de drogas na escola? Como agiu? Comente e compartilhe conosco sua opinião.
Texto de Flávia Vivaldi, publicado em 2014 e disponível em https://gestaoescolar.org.br